segunda-feira, 15 de novembro de 2010

SANTA CATARINA: A POTÊNCIA GEOTÉRMICA
Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc





[Imagens de usinas geotérmicas*]


[Gradiente geotérmico do estado de Nevada/EUA www.google.org]


Uma nova revolução energética está chegando. Assim como já aconteceu com o vapor, a eletricidade, o petróleo, e com o pré-sal, agora estamos vendo a chegada da energia geotérmica.

Sempre que surge uma inovação energética é necessário um olhar cauteloso. Mas, nesse caso, os indícios são muito fortes. E a melhor notícia é que o Estado de Santa Catarina pode estar em uma posição altamente privilegiada, sendo uma espécie de Arábia Saudita da nova energia. Na verdade o mais correto é dizer que o Brasil é uma potência geotérmica, mas, no caso em tela, como os indicadores em estudo são do estado catarinense, nossa análise fica localizada na mesma delimitação geográfica.


[Imagens de usinas geotérmicas*]

Antes de maiores detalhes, é importante destacar o impacto do pré-sal sobre a Petrobrás, sobre a sociedade brasileira e mesmo sobre o mercado mundial. A empresa tinha uma avaliação na casa de 65 bilhões. Após todos os movimentos do pré-sal, passou, recentemente, ao patamar de 250 bilhões. Isso ainda sem levar um único litro de gasolina dessa nova fonte aos postos. Ou seja, a simples descoberta de uma inovação energética, por si só, desde que bem fundamentada, já gera uma enorme agregação de valor.

Pois bem, é necessário considerar que toda a estrutura do pré-sal exige ir ao alto mar, descer uma sonda a 5.000 metros, perfurar mais 3.000 metros (números médios aproximados), extrair, transportar, refinar, distribuir, e ainda pensar nos resíduos poluentes.

Necessário considerar também que a principal utilização do petróleo é o combustível e a geração de energia termoelétrica, e também que o carro hibrido (parcialmente elétrico) já está entre os destaques de vendas nos EUA e Europa.


[Vantagem de consumo de veículos híbridos www.google.org]

Que tal pensar em algo mais simples, barato, abundante e menos poluente que o petróleo? Isso existe, chama-se energia geotérmica. É energia que não precisa ser reabastecida, não necessita desapropriações, possui baixíssimo impacto ambiental para construção e operação, é absolutamente renovável, não está sujeita às sazonalidades climáticas, não requer a formação de lagos, não gera vazamentos catastróficos, oferece baixíssimo risco de acidentes e cujo principal resíduo é o vapor de água.


[Diagramas didáticos sobre o funcionamento das usinas geotérmicas www.google.org]

Estudos recentes revelam que 2% do calor subterrâneo dos EUA é suficiente para suprir 2.500 vezes a sua necessidade de consumo energético. A informação é do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), a meca americana da tecnologia e inovação.


[Mapa geotérmico dos EUA www.google.org]

Para tornar esta visão um pouco mais clara, alguns números são importantes sobre a energia geotérmica, como indicadores medianos de viabilidade, sendo que os principais são a temperatura (150 graus Celsius), e a profundidade da perfuração (3.000 metros é o ideal). Nessa relação, quanto maior a temperatura, e menor a perfuração, mais acessível está a energia. Se já houver água no local, todo o processo fica facilitado.


[Fotos de maquetes tridimensionais digitais de plantas de geração e perfuração geotérmicas www.google.org]

Um solo facilmente perfurável torna as coisas um pouco mais fáceis. Uma temperatura amena no nível do solo também influencia positivamente. A conjugação de todos esses fatores, e mais alguns outros, gera uma complexa fórmula, cujo resultado é chamado de gradiente geotérmico. E quando esses fatores são favoráveis, então têm-se um local de alta potencialidade de geração geotérmica. É o caso de Santa Catarina.


[Imagens de usinas geotérmicas*]

Essa expectativa é reforçada por mais um forte indicador: presença abundante de fontes água termal. Não é a toa que a foto de uma piscina termal é uma das principais imagens de demonstração da potencialidade geotérmica por parte da Associação Internacional de Energia Geotérmica, conforme seu website. As razões são óbvias, pois se existe água aflorando a 60 ou 70 graus, presume-se ser mais fácil chegar aos desejados 150 graus.


[Site da Associação Internacional de Energia Geotérmica, e os dados sobre o Brasil]

Considerando que Santa Catarina tem aquela que é tida como a segunda melhor reserva de água termal do mundo, já podemos concluir, sem muitas delongas, que o estado tem grandes potencialidades, as quais, a se confirmarem, farão com que a história energética em solo catarinense seja reescrita.


[Imagens de usinas geotérmicas*]

Sabe-se que existem fortes pólos termais em Santo Amaro da Imperatriz, Gravatal, Itá e Piratuba, além de um município chamado paradigmaticamente de “Águas Mornas”, fato que fala por si. A isso somam-se vários relatos de águas aquecidas aflorando em rios, ou em perfurações de pouca profundidade, em vários outros pontos do estado.


[Turbina geotérmica*]

Nesse sentido é importante conhecer a afirmação taxativa da Associação Internacional de Energia Geotérmica sobre o potencial brasileiro:

“Hamza, et al. (2005) show that currently 360.1 MWt are installed with an annual energy use of 6,622.4 TJ/yr. Of this 355.9 MWt and 6,545.4 TJ/yr are utilized for bathing and swimming, the rest (4.2 MWt and 77.0 TJ/yr) in an industrial plant, in particular for industrial wood processing and pre-heating water for use in boilers used for the production of coffee powder. About a dozen spring systems account for the bulk of this capacity with most of them located in central Brazil. The potential for large scale exploitation of low temperature geothermal water for industrial use and space heating is significant, particularly in southern and southeastern parts of Brazil where cold winter seasons with temperature below 100.” De onde se destaca o seguinte: “o potencial para exploração em larga escala de água termal para uso industrial… é significante, particularmente no Sul e Sudeste do Brasil.”

Some-se a isso o fato de já existirem em Santa Catarina grupos de pesquisa com estudos estratégicos sobre o tema, em avançados estágios de reconhecimento internacional, conforme noticiou o jornal Diário Catarinense, em 11 de maio de 2010 (em anexo), relatando evento científico realizado na Alemanha.

Mas existe uma importante pergunta a ser feita: quem, no mundo, está levando esse assunto a sério?

A resposta se dá em duas etapas: em primeiro plano, existem várias entidades técnicas e associações científicas e industriais dedicadas ao assunto, além de iniciativas governamentais (Comunidade Européia e Austrália).



[Sites de entidades ligadas à energia geotérmica]

Mas em segundo plano a surpreendente resposta é: o Google. A empresa que foi de zero a 100 bilhões de dólares em 10 anos, e é a responsável pela maior revolução da historia da informação, agora é uma grande consumidora e geradora de energia geotérmica. Isso aconteceu em função de o Google consumir muita energia elétrica em suas buscas, o que fez a empresa pesquisar e investir muito sobre geração barata de energia limpa. O resultado: aproximadamente 40% de todas buscas do mundo são abastecidas por energia geotérmica. Ou seja, de cada 10 buscas que fazemos na internet, 4 já são respondidas através dessa inovadora fonte de energia. Não é a toa que a gigante mundial recentemente criou uma subsidiária chamada de Google Energy, dedicada ao assunto.


[Site do Google.org, sobre energia geotérmica]

Somando todos esses fatores, é possível concluir que está na hora de dar passos mais significativos, como os seguintes:

1) Realização do diagnóstico de potencialidade e elaboração da Carta Geotérmica de Santa Catarina, com respectiva disponibilização em ferramentas de acesso público;
2) Em seguida, é necessário realizar um conjunto de estudos de avaliação da viabilidade econômico-financeira, com análise de custos e retornos de investimentos;
3) Na etapa seguinte, deve-se realizar a discussão e definição do modelo de geração e exploração, compatível com a matiz cultural, social e econômica de Santa Catarina e com suas características ambientais;
4) Após, deve-se definir os papeis das instituições, empresas, universidades e Poder Público.


Referências sobre o assunto:
• Australian Geothermal Energy Group
• Geothermal Energy Associaion
• Geothermal Resources Council
• International Geothermal Association
• United States Department of Energy Geothermal Technologies Program
• European Deep Geothermal Energy Programme
• GFZ Germain Research Centre for Geosciences
• US Department of Energy: Desert Peak
• US Department of Energy: Idaho National Laboratory
• US Department of Energy: National Renewable Energy Laboratory
• US Department of Energy: Sandia National Laboratories
(*) Imagens de usinas geradas pela Associação Internacional de Energia Geotérmica



ANEXO – Notícias no Jornal Diário Catarinense

Noticia 1: TECNOLOGIA PARA REDUZIR A CONTA DE LUZ
11 de maio de 2010
INFORME ECONÔMICO | ESTELA BENETI

A Celesc pode ser a pioneira na América Latina a homologar um medidor de consumo de energia que permite aos clientes da companhia monitorar seu consumo e, assim, economizar para reduzir o valor da conta de luz. Isto é possível com o uso do Power Metter, um aparelho que é acoplado no medidor de consumo da residência ou empresa e informa, pela pela internet, via Google, quanto está sendo gasto. Na Alemanha, onde algumas regiões já adotam a tecnologia, houve caso de redução de até 65% do consumo no horário de pico.
O plano para o uso desta tecnologia pela Celesc foi elaborado em projeto de pesquisa e desenvolvimento à estatal pelo Instituto I3G, dos pesquisadores doutores Hugo César Hoechl e sua mulher, Tania Cristina Dagostini Bueno, mais a mestre e doutoranda da UFSC Sonali Bedin. Eles apresentaram a proposta em congresso internacional de Sistemas de Informações em Berlim, Alemanha, semana passada, e receberam o aval científico para a adoção da tecnologia pela Celesc. O medidor, que já é usado em algumas regiões da Alemanha e EUA, custa cerca de R$ 100.

Energia alternativa

O trabalho dos pesquisadores para a Celesc envolveu também pesquisas sobre *energia geotérmica* profunda, aquela que vem da terra, e de geração eólica em grandes altitudes. Esses estudos também foram apresentados no evento de Berlim, pelos pesquisadores Sonali Bedin, Hugo César Hoechl e Tânia Bueno. Segundo Hoechl, a Celesc tem, hoje, uma conta de compra de energia de R$ 2,7 bilhões. Se os consumidores gastarem menos, ela pode ter uma base maior de clientes ou pode reduzir a compra de energia junto a geradoras.O medidor ajuda as pessoas a usarem equipamentos que gastam mais energia fora dos horários de pico.

Notícia 2: DE OLHO EM SC
14 de novembro de 2010 | N° 8990
VISOR | RAFAEL MARTINI

Parece até invenção do professor Pardal. Mas trata-se de um ambicioso projeto que pode colocar Santa Catarina no mapa mundial da energia limpa e renovável. Em março deste ano, a Google, gigante do mundo virtual, criou a Google Energy, uma empresa destinada à pesquisa de novas tecnologias de fontes de energia. A companhia norte-americana destina 1% do seu faturamento anual de US$ 20 bilhões para desenvolver projetos economicamente viáveis e sustentáveis na área. A grande aposta da líder mundial em consultas na internet é a energia geotérmica. De maneira resumida, consiste em transformar o calor existente nos lençóis freáticos do subsolo em energia elétrica. E adivinhem quem está sentado sobre uma das maiores reservas de água subterrânea do planeta? Bingo: os catarinenses. De olho nesta mina de energia limpa, a Google Energy firmou um protocolo com o Instituto I3G, de Florianópolis, para detalhar o potencial de geração geotérmica no Estado.

O instituto é formado basicamente por mestres e doutores da Universidade Federal de Santa Catarina (www.i3g.org.br). Uma reunião entre a Google e o I3G já foi realizada na Alemanha, quando oficializaram a parceria. De acordo com Hugo Hoeschel, que coordena um grupo de 15 pesquisadores envolvidos no projeto, os norte-americanos estão, simplesmente, alucinados com Santa Catarina.